Sábado de sol, acordo muito cedo e me preparo para aquela caminhada que há muito tempo não faço, será que meu mestre ainda caminha por lá? Bom saio de casa animado e vou chegando ao local em que tantas lições aprendi, onde minha vida foi mudando aos poucos, como se estivesse sendo forjado, ou lapidado, dependendo se posso me considerar um ferro quente ou um diamante bruto. Como sempre ele está lá e mais uma vez me trata como se tivéssemos caminhado juntos ontem, começamos a andar e eu lhe pergunto se ele se dava bem com o pai, se eram amigos, se conversavam bastante. Com muita calma ele me explica que sua geração tinha um tratamento diferente com relação aos pais, um distanciamento provocado pelo respeito que hoje, quase deixou de existir, mas diante de todas essas limitações ele conseguia conversar sim com o pai sobre coisas formais, escola, trabalho, problemas cotidianos. Me disse que sentia falta do amigo, de poder falar dos amores, das primeiras experiências sexuais, da descoberta dos mistérios da adolescência e das mudanças necessárias para se transformar num homem. Mas se eu for analisar isso não fez desse homem alguém triste, traumatizado, ou algo assim, ao contrário ele se tornou um ser iluminado, um homem que sempre me mostrou o lado bom de tudo. Mas na verdade pedi a meu amigo para me ajudar a ter um relacionamento mais íntimo com o meu pai, não sei porque não consigo. Nossas conversas se limitam às coisas do cotidiano, como meu mestre e seu pai. Não consigo falar de nada que seja mais profundo, mais íntimo, não consigo me relacionar com meu pai como um amigo. Ele me respondeu que o importante é o amor e o respeito que temos um pelo outro, a verdade sempre está presente em nossa relação. Por maiores que sejam as dificuldades de expressar os nossos sentimentos a verdade é que as pessoas que amamos, principalmente pai e mãe, sempre sabem o que estamos sentindo e mais que isso se estamos sendo sinceros ou não, sendo assim ter problemas de relacionamento com estas pessoas é muito mais comum do que imaginamos, tudo depende da forma como fomos criados, da convivência que tivemos com nossos pais, confidências, desabafos e intimidade são fruto da confiança mútua. Depois disso me olhou bem tranquilo no fundo dos olhos e me disse carinhosamente: "fique em paz eu não conheço seu pai, mas sei que ele te ama e estou vendo que ele é seu ídolo, usufrua desse amor e tente mostrar o quanto ele é importante em sua vida, isso basta". Agora vamos aproveitar a caminhada em silêncio, pois no silêncio também podemos aprender muito.
J.C.A.
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