terça-feira, 6 de outubro de 2020

ACONTECEU EM ITAJUBÁ

Tarde de sábado, um sol escaldante sobre as ruas e calçadas, mais ou menos meio dia e meia, um senhor, aparentemente reciclador de materiais caminha pela Rua Nova, olhando em todas as lixeiras em busca de algo que lhe seja de valor para poder vender ao final do dia e assim levar para casa o sustento. Paro ao lado dele com algumas moedas que peguei de troco numa casa lotérica e lhe ofereço, sei lá, para matar a fome até que o longo dia termine. Com uma educação de impressionar ele me aponta uma pessoa sentada no começo da rua, com uma criança no colo pedindo ajuda para comprar algo para comer e também para a criança se alimentar. Confesso que na hora estranhei a atitude, mas ele me explicou: - Eu estou trabalhando, desde às 5:00 da manhã eu estou “garimpando” coisas boas, coisas que as pessoas descartam e que mais tarde irei vender e assim poder levar o que comer para mim, minha esposa e meus filhos, e com a graça de Deus tem dado certo nos últimos quatro anos. Tenho conseguido pagar o aluguel, água, luz, um telefone celular e internet para os meninos poderem continuar estudando desse jeito novo. Não passamos grandes necessidades, não temos luxo, mas para o arroz, feijão, ovo e uma carninha de vez em quando até tem. Perguntei como era a vida, se a família se queixava da quase pobreza, sorrindo ele me diz que não, aos domingos os meninos é que saem para o “garimpo”, eles dizem que eu preciso descansar, preciso me refazer para a luta da semana inteira. Tenho aceitado a ajuda, pois numa coisa eles têm razão, estou cansado mesmo. Mas Deus é grande e um dia desses tudo vai melhorar, tenho uma casa simples, não conseguimos nenhum móvel de granfino, a televisão ainda é de tubo, mas temos um lar. Temos um lugar para onde gostamos de voltar depois de nossas tarefas diárias, um lugar onde sorrimos, brincamos e mantemos a união e harmonia. Posso dizer que sou um homem realizado, meus meninos estão quase formados e minha esposa cuida de nós e da casa com muito carinho e dedicação. Posso não ter a vida que sonhei, mas tenho mais do que preciso e mereço. Aquela pessoa ali está precisando muito mais de sua ajuda financeira do que eu, mas mesmo assim lhe agradeço muito pela oferta e pela conversa, muitas vezes sou ignorado como se fosse invisível aos olhos de todos, o senhor me viu e tentou me auxiliar. Nesse momento nós dois percebemos que havia uma pessoa ao nosso lado que tinha ouvido toda a nossa conversa, pediu licença e entregou ao homem um envelope fechado e informou que iria fazer a mesma coisa para a outra pessoa que estava sentada com a criança no começo da rua. Pediu para aceitar, mas para não abrir ali na rua, para abrir em casa em companhia da família. Fez isso me olhou e perguntou se poderia me dar um abraço porque se não fosse por mim ele também teria ignorado o homem e o tratado como invisível. Nos abraçamos, mesmo em tempo de pandemia, nunca tinha visto essa pessoa, mas ele me conhecia, pois me disse Júlio Anselmo hoje você me deu uma aula dignidade e acolhimento. Ambos seguiram seus caminhos o homem continuou “garimpando” as lixeiras da rua e o outro parou perto da pessoa sentada com a criança, entregou o envelope e foi embora. Eu, eu fiquei ali por uns 15 minutos chorando, confesso que fiquei curioso quanto ao conteúdo dos envelopes, mas fiquei mais ainda envergonhado das moedas que eu quis oferecer.


J.C.A.



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