
Como já contei em outras ocasiões, nasci, cresci, estudei e passei 35 anos de minha vida na cidade de São Paulo, o que serviu para valorizar muito os momentos que passei na casa dos meus avós maternos em Itajubá no Sul de Minas Gerais. Cada nova temporada de férias que chegava trazia consigo uma ansiedade infantil, que era natural, mas que vinha recheada de curiosidades em torno da cultura diferente com a qual eu precisaria conviver por dois meses ou mais. Foi uma experiência enriquecedora em todos os aspectos, jogar bolinha de gude na terra, andar a cavalo, tirar leite, comer carne de porco, galinha, vaca ou cabrito que eram criados no quintal. Comida feita todos os dias no fogão a lenha que era aceso por volta das cinco da manhã e só apagava depois das oito da noite, e durante todo o dia havia panelas em cima dele e quem chegasse comia. Muita gente entrando e saindo, pois a família era grande, eram oito filhos, primos, sobrinhos, vizinhos e amigos que mantinham a casa sempre cheia. Mas uma das lembranças que permanece até hoje é do sino da Igreja Nossa Senhora das Graças no Morro do Cruzeiro. Foi nesta época e em Itajubá que fui aprender a diferença entre os toques. Quando era um toque barulhento, repetitivo era a chamada para a missa. Todos apertavam o passo, pois o padre era severo e começava no horário certo. Já aquele toque pausado, quase uma balada de adeus anunciava os enterros e a tristeza tomava conta de todas as localidades aonde o som do sino chegava. Em dias de festa o sino distribuía alegria, seu toque parecia um sorriso que atraía a todos já antecipando a celebração que reuniria as famílias. Hoje quase toda esta linguagem dos sinos está extinta e existem igrejas que ao invés do sino utilizam uma “coisa” tecnológica que imita o som original. Que pena.
JCA
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