"Tem certos dias em que eu penso em minha gente":
Uma gente que sofre nas filas dos hospitais, que não tem emprego decente, tratados como animais só estão faltando as correntes;
"E sinto assim todo o meu peito se apertar":
O peito se aperta de tristeza, por conta da hipocrisia de políticos que têm absoluta certeza que tudo está uma maravilha;
"Porque parece que acontece de repente":
De repente então percebo que faço parte do problema colaboro com este mal, sou responsável também por todo este grande dilema, por toda esta humilhação nacional;
"Como um desejo de eu viver sem me notar":
Finjo que nada disso é real, não está acontecendo com meus amigos, tudo isso é até normal, não tenho consciência do perigo;
"Igual a como quando eu passo no subúrbio":
Bons tempos em que se podia distinguir o que era subúrbio e o que era “cidade”, hoje o direito de “ir e vir” é artigo de primeira necessidade;
"Eu muito bem vindo de trem de algum lugar":
Como se não bastasse, já foi sinal de status poder andar em um trem. Hoje é transporte sem classe, maldito general do desdém;
"E aí me dá como uma inveja dessa gente":
Como ter inveja da miséria, da subvida, do descaso das autoridades, gente de vida sofrida, abandonada em todas as idades;
"Que vai em frente sem nem ter com quem contar":
Contam apenas com a fé, se apoiando uns nos outros, prá poder ficar de pé. A ajuda vem dali mesmo, aquele que menos possui é o que mais distribui;
"São casas simples com cadeiras na calçada":
Pode parecer poético, mas a verdade é cruel, as cadeiras estão na calçada, cobertas só pelo céu porque dentro daquelas casas não dá prá caber mais nada;
"E na fachada escrito em cima que é um lar":
Lar devia ser sinônimo de fartura, de união e de alegria. Neste caso é desestrutura, solidão e desarmonia;
"Pela varanda flores tristes e baldias":
E nesse mundo de abandono ainda encontram espaço para cuidar daquilo que não tem mais dono, a natureza. Na flor simples um toque de beleza;
"Como a alegria que não tem onde encostar":
Nesta rua, nestas casas a alegria não estaria. Aqui há resignação, lamento, sofrimento, desespero e solidão;
"Aí me dá uma tristeza no meu peito":
Tristeza por minha impotência, uma crise de consciência, eu com tanta inteligência e cúmplice da negligência;
"Feito um despeito de eu não ter como lutar":
Escondido na covardia me levanto todo dia e passo por essa gente. Entristeço-me só na hora, depois caio na rotina, viro a esquina e vou embora;
"E eu que não creio":
Bem que eu queria acreditar, mas é difícil aceitar tanta injustiça, tanta dor, me irrita mais minha preguiça me incomoda o pouco amor;
"Peço a Deus por minha gente":
Peço sempre em oração, prá que em cada coração brote a solidariedade, e que esta hipócrita sociedade vire este jogo de verdade;
"É gente humilde":
Pobreza não é doença, não pega se abraçar, não contamina chegar perto. Tomara que volte a crença que é muito melhor dar, e que este é o tempo certo;
"Que vontade de chorar":
Como se chorando se apagasse o preconceito, essa gente necessita é de ajuda de verdade. È preciso urgentemente um pouco mais de humanidade.
JCA
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