terça-feira, 27 de julho de 2010

NOVO JEITO DE OLHAR A MÚSICA: "GENTE HUMILDE"

"Tem certos dias em que eu penso em minha gente":

Uma gente que sofre nas filas dos hospitais, que não tem emprego decente, tratados como animais só estão faltando as correntes;

"E sinto assim todo o meu peito se apertar":

O peito se aperta de tristeza, por conta da hipocrisia de políticos que têm absoluta certeza que tudo está uma maravilha;

"Porque parece que acontece de repente":

De repente então percebo que faço parte do problema colaboro com este mal, sou responsável também por todo este grande dilema, por toda esta humilhação nacional;

"Como um desejo de eu viver sem me notar":

Finjo que nada disso é real, não está acontecendo com meus amigos, tudo isso é até normal, não tenho consciência do perigo;

"Igual a como quando eu passo no subúrbio":

Bons tempos em que se podia distinguir o que era subúrbio e o que era “cidade”, hoje o direito de “ir e vir” é artigo de primeira necessidade;

"Eu muito bem vindo de trem de algum lugar":

Como se não bastasse, já foi sinal de status poder andar em um trem. Hoje é transporte sem classe, maldito general do desdém;

"E aí me dá como uma inveja dessa gente":

Como ter inveja da miséria, da subvida, do descaso das autoridades, gente de vida sofrida, abandonada em todas as idades;

"Que vai em frente sem nem ter com quem contar":

Contam apenas com a fé, se apoiando uns nos outros, prá poder ficar de pé. A ajuda vem dali mesmo, aquele que menos possui é o que mais distribui;

"São casas simples com cadeiras na calçada":

Pode parecer poético, mas a verdade é cruel, as cadeiras estão na calçada, cobertas só pelo céu porque dentro daquelas casas não dá prá caber mais nada;

"E na fachada escrito em cima que é um lar":

Lar devia ser sinônimo de fartura, de união e de alegria. Neste caso é desestrutura, solidão e desarmonia;

"Pela varanda flores tristes e baldias":

E nesse mundo de abandono ainda encontram espaço para cuidar daquilo que não tem mais dono, a natureza. Na flor simples um toque de beleza;

"Como a alegria que não tem onde encostar":

Nesta rua, nestas casas a alegria não estaria. Aqui há resignação, lamento, sofrimento, desespero e solidão;

"Aí me dá uma tristeza no meu peito":

Tristeza por minha impotência, uma crise de consciência, eu com tanta inteligência e cúmplice da negligência;

"Feito um despeito de eu não ter como lutar":

Escondido na covardia me levanto todo dia e passo por essa gente. Entristeço-me só na hora, depois caio na rotina, viro a esquina e vou embora;

"E eu que não creio":

Bem que eu queria acreditar, mas é difícil aceitar tanta injustiça, tanta dor, me irrita mais minha preguiça me incomoda o pouco amor;

"Peço a Deus por minha gente":

Peço sempre em oração, prá que em cada coração brote a solidariedade, e que esta hipócrita sociedade vire este jogo de verdade;

"É gente humilde":

Pobreza não é doença, não pega se abraçar, não contamina chegar perto. Tomara que volte a crença que é muito melhor dar, e que este é o tempo certo;

"Que vontade de chorar":

Como se chorando se apagasse o preconceito, essa gente necessita é de ajuda de verdade. È preciso urgentemente um pouco mais de humanidade.

JCA

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