Terça feira, sol brilhando cedo afinal acabou o horário de verão. Levantei-me por volta da cinco da madrugada, tomei banho, um litro de leite gelado, dei um jeito no quintal retirando aquelas coisinhas de cachorro, aí ração, água fresquinha. Pronto, estou liberado para minha caminhada educativa matinal, estou cada dia mais disposto e ansioso por estes momentos que passo ao lado do meu mais novo amigo de infância. Cheguei antes, fiz o alongamento e fiquei à espera, logo ele apareceu. Iniciamos as nossas passadas, eu em direção ao conhecimento, ele eu não sei. Logo nos primeiros segundos me informou que queria me contar uma história da sua vida, uma passagem inesquecível, e foi falando: - Quando eu tinha uns dezoito anos trabalhava em uma construtora e depois do expediente sempre parava num bar ao lado da obra. Bar do “Seo” João. Como todo boteco que se preza tinha lá seus personagens, batiam ponto no lugar todas as noites o “Vaca Véia”, nordestino, falava alto; tinha também o “Zóinho”, técnico em eletrônica e viciado em bilhar, e o Nelson sem apelido, muito elegante, educado ao extremo e apreciador de uma pinga com limão. Conversava sobre os mais variados assuntos e tinha uma qualidade especial, uma filha maravilhosa com lindos olhos verdes, Débora. Era uma morena de mais de um metro e setenta com um corpo de dar inveja a muita modelo de hoje. Não sei por que ela gostou de mim, e o pai se tornou meu amigo, conversávamos muito e ela sempre aparecia para iluminar o lugar. Como não podia deixar de ser, começamos um namoro, quanta felicidade. Aquele mulherão estava comigo, e todos no bar me invejando. Depois de, mais ou menos um ano terminamos. Então me deparei dois ensinamentos que marcaram minha vida para sempre. Primeiro a dor do fim. Sofri muito, deixei de freqüentar o boteco, não queria nem ver a tal da Débora. Passada a dor, veio a decepção, descobri que além de mim a moça tinha mais dois namorados dela. O mais triste de tudo é que iludido pela paixão entendi que fosse inveja de todos naquele bar o que na verdade era pena, pois todos sabiam do fato. Ah! Os ensinamentos? O perdão, a vítima era ela e não eu fui fiel, sério, honesto no meu comportamento. Eu menino ainda consegui perdoar, afinal ela havia perdido o melhor partido do pedaço. A outra lição, veio da falsidade, da falta de consideração daqueles que se diziam meus amigos e não me avisaram de nada. Hoje continuo perdoando àqueles que me prejudicam, mas sempre que posso procuro alertar aos amigos sobre tudo que eles eventualmente não estão percebendo. Amigo prá valer diz a verdade mesmo que doa. Puxa falei demais, mesmo assim, obrigado por me ouvir. Vamos agora às lições do silêncio. Obedeci e comecei a me lembrar que também já tive na vida amigos e mulheres assim.
JCA
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