Uma das composições mais bonitas do saudoso João Nogueira se chama O Poder da Criação, na letra ele descreve toda a naturalidade com que acontece o encontro da inspiração com o criador. Com a sabedoria de grande mestre que sempre foi ele vai apresentando a receita para se tornar um compositor: “Não, ninguém faz samba só porque prefere, força nenhuma no mundo interfere sobre o poder da criação...”. Pensando nisso e lembrando do meu ídolo João Nogueira, comecei a analisar as razões que me levam a escrever todos os dias, pelo menos um texto, quando não vários. Do mesmo modo que acontece com o compositor que é tomado pela letra e começa a sentir a chegada da melodia, o texto me invade, toma conta das minhas idéias e a única coisa que não posso fazer nesta hora é pensar. Não tenho o direito de tentar formatar, escolher as palavras, imaginar a conclusão final. Tenho sim, a obrigação de sentar e começar a digitar. As letras vão se encaixando, as palavras formando frases, frases se entrosando e tomando sentido e, finalmente ali está o texto pronto. Ah! Importante, assim que termino de escrever preciso publicar, não leio, não reviso, não faço absolutamente nada para não (me) atrapalhar. Publicado não me pertence mais, é propriedade dos que lêem faz parte daqueles se deparam com ele, mesmo que sem querer. Alguns comentam, outros nem sequer me deixam saber se o viram, mas ele está ali, para sempre. Mais ou menos como o filho que a mãe coloca no mundo, veio de dentro dela, mas nunca lhe pertenceu, dependeu dela, mas nunca foi sua propriedade, necessitou de sua emoção, mas nem sempre lhe deu satisfação das coisas que fez as pessoas sentirem ao ter contato com eles enquanto estão longe dela. O texto é assim, uma obra que sai de mim, assume vida própria com a publicação e cai no esquecimento daqueles que o leram depois de um tempo. É nesta hora, quando meses ou mesmo anos já se passaram que vou me empenhar em lê-lo, somente aí emocionalmente preparado, com a consciência plena de ser apenas um leitor, posso usufruir do prazer ou da raiva que este escrito pode proporcionar. À distância, sem o direito de poder modificar nenhuma vírgula e ponto final.
JCA
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